Em um dia de sol e calor um escritor de poesias tentava, como
de costume, vender seus exemplares na esquina de uma movimentada avenida.
Enquanto os carros paravam no semáforo oferecia o seu produto.
- Bom dia Senhor. Disse ele ao jovem rapaz.
- Pois não! – Respondeu o rapaz enquanto baixava o volume do
som de seu belo carro esporte.
-Senhor meu nome é Antonio Palavra, escrevo poesias e queria
lhe oferecer o meu livro, custa apenas...
- Para! Nem precisa continuar. Não gosto desta chatice
não. Muito obrigado senhor, mas não estou
interessado.
- Tenha calma rapaz. Quem tem pressa, não ouve, não aprende
e não aproveita a vida.
- Aproveitar a vida? Pois eu aproveito muito bem a minha
vida e não preciso ler estas baboseiras que escreve.
- Mas como pode dizer isto de algo que não conhece? Aposto
que nunca ouviu falar de nenhum poeta importante da literatura brasileira!
-Não conheço e nem quero! – O rapaz soltou uma gargalhada. -
Meu senhor eu não quero atrapalhar o seu trabalho não, mas não me importa quem
foi este ou aquele, ninguém gosta disso.
- Você esta errado! – Disse o poeta irritado. – Poesias é o
clamor da alma, o estudo do tempo, a expressão da vida!
- Balela! Poesias servem apenas para os poetas.
- Como pode dizer isto sem nem mesmo conhecer Vinicius de
Moraes ou Fernando Pessoa? Você é um ignorante cultural!
- E pretendo continuar sendo. Meu senhor, eu trabalho em uma
maiores multinacionais do país, tenho o melhor carro, as melhores roupas e
claro as melhores mulheres, nada me falta, o que este livro que não me serve de
nada me acrescentaria?
- Misericórdia!
-Escute este som! Valeska Popozuda já ouviu falar? É o som
do momento!
- Baixe este som! – Disse Antonio transtornado.
- Está bem senhor, eu me rendo. Me de este livro. Vinte reais
paga? – Disse o jovem enquanto entregava o dinheiro e pegava o livro de sua
mão.
O semáforo abriu e antes que o motorista pensasse em sair
Antonio disse:
- Você é mesmo muito insensível, me devolva isto, não quero
que seja apenas mais um livro empoeirado, você não merece ter uma de minhas
obras.
O carro saiu cantando pneus. Ao chegar a calçada Antonio
ouviu um mendigo dizer:
- Você errou ao não permitir que ele levasse o livro.
-Claro que não! Ele jamais iria ler.
-Eu sei, mas você teria seus 20,00, pouco importa se ele
iria ou não admirar o seu trabalho, você foi tão vaidoso quanto ele. Alem
disso, não adianta querer ensinar a quem não está disposto a aprender.
- Você pode ter razão.
- Aqui você não é um poeta, mas um vendedor de livros. – O
mendigo sorriu.
- Antonio das
Palavras se encontra sem palavras.
- Então homem vá vender as suas obras. E não se esqueça, “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”*.
Texto Por: Grazy Nazario.
*Trecho de obra literária de Fernando Pessoa.
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