A
ditadura militar sempre foi um assunto que eu ouvia ainda criança e não fazia a
menor ideia do que se tratava, os discursos em relação ao golpe de 64 que completou
50 anos recentemente carregam opiniões das mais variadas, e exemplificam verdadeiramente
quais foram os efeitos deste sistema e de que forma ele se fez eficaz em suas pretensões.
A
liberdade conhecida como o principio básico da humanidade, foi também o mais
corrompido, durante a ditadura, e é hoje sem duvida o maior bem conquistado com
a democracia, alias sem este direito, eu ou diversos colegas jamais poderia
realizar este maravilhoso exercício de compartilhar o que pensa e como enxerga
o mundo e as coisas ao seu redor, provavelmente seriamos presos se estivéssemos
naquela época, ou nem terias as opiniões publicadas, a liberdade de imprensa não
existia, basicamente é isto, apenas não teríamos
nem informação ou opinião.
Passado
cinquenta anos do golpe, e trinta anos de seu fim, colhemos ainda os frutos
plantados em um tempo que não decidíamos, ou apenas não tínhamos este direito,
tempo em que a repressão era usada para manter um sistema que já começou
falido, sem direcionamento ou ética, a ordem era “ordem” acima de tudo, a
qualquer preço.
Mas
o que me intriga nesta historia são os efeitos intitulados como “bons” que a
ditadura nos deixou de herança. Diferente de outros tempos, já se pode ter
acesso a documentos, depoimentos e outras tantas provas dos métodos desumanos
praticados durante um período em que atrocidades era algo comum, e o ser humano
não tinha voz.
Desse
modo nos vemos diante de pessoas que viveram este período, e simplesmente não viram
nada disso, é como se tantos crimes simplesmente não existissem, como se fosse
um mundo paralelo que acontecia longe da maioria. Na verdade a realidade não era
a mesma para todos, assim como não é hoje e da mesma forma como algumas coisas não
existem simplesmente porque não acontecem conosco. Este pode ser o pior
equivoco de uma sociedade.
Assim
notamos a diferença entre a ditadura vivida e a contada, a partir deste
principio ela ganha força, conquistou verdadeiros adeptos ao seu sistema
opressor, que segundo era “contado” servia para proteger a população. Muitos foram
cassados, quem era contra o sistema ou não a favor, eram delatados por pessoas
que nem mesmo entendiam a situação politica do país, imersos na realidade aplicada
por todos os meios possíveis, a “verdade” contada por mentirosos, donos do
poder, donos da lei e da justiça.
Tornar
um ato sórdido em algo benéfico está entre os principais ideais de um sistema repressor,
este era o seu papel, e é devido a condutas como estas que continuamos a colher os frutos deste passado deplorável. Falamos
desde a censura que julgava pessoas como subversivas, ou torturas, mortes,
entre tantos outros crimes à vida. Imaginamos então quantos filhos simplesmente
não voltaram para suas casas... Foi assim que o Brasil atrasou o seu verdadeiro
progresso, e tenta correr atrás do prejuízo, no entanto é evidente que continuamos
sem parâmetros, se não é fácil guiar a própria vida, idealize controlar uma nação!
Enfim
agradeço por ter nascido numa época em que as minhas opiniões são garantidas pela
liberdade de expressão. Que temos acesso aos materiais para saber a verdade de
um período sangrento e perverso, e que a população tenha a oportunidade de
entender por que este período não foi bom. Perceber a historia é validar que
tantos não morreram em vão, e a utopia que motivou a tantos, mesmo sem conquistar
100% do que desejava, incentivou a toda uma geração a ir, como cantou Caetano “Caminhando
contra o vento, sem lenço e sem documento...”, mesmo quando tudo obrigava a não
prosseguir.
Por
Grazy Nazario. MTB. 74588/SP.
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