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sábado, 5 de abril de 2014

Ditadura vivida e contada


A ditadura militar sempre foi um assunto que eu ouvia ainda criança e não fazia a menor ideia do que se tratava, os discursos em relação ao golpe de 64 que completou 50 anos recentemente carregam opiniões das mais variadas, e exemplificam verdadeiramente quais foram os efeitos deste sistema e de que forma ele se fez eficaz em suas pretensões.

A liberdade conhecida como o principio básico da humanidade, foi também o mais corrompido, durante a ditadura, e é hoje sem duvida o maior bem conquistado com a democracia, alias sem este direito, eu ou diversos colegas jamais poderia realizar este maravilhoso exercício de compartilhar o que pensa e como enxerga o mundo e as coisas ao seu redor, provavelmente seriamos presos se estivéssemos naquela época, ou nem terias as opiniões publicadas, a liberdade de imprensa não existia,  basicamente é isto, apenas não teríamos nem informação ou opinião.

Passado cinquenta anos do golpe, e trinta anos de seu fim, colhemos ainda os frutos plantados em um tempo que não decidíamos, ou apenas não tínhamos este direito, tempo em que a repressão era usada para manter um sistema que já começou falido, sem direcionamento ou ética, a ordem era “ordem” acima de tudo, a qualquer preço.

Mas o que me intriga nesta historia são os efeitos intitulados como “bons” que a ditadura nos deixou de herança. Diferente de outros tempos, já se pode ter acesso a documentos, depoimentos e outras tantas provas dos métodos desumanos praticados durante um período em que atrocidades era algo comum, e o ser humano não tinha voz.

Desse modo nos vemos diante de pessoas que viveram este período, e simplesmente não viram nada disso, é como se tantos crimes simplesmente não existissem, como se fosse um mundo paralelo que acontecia longe da maioria. Na verdade a realidade não era a mesma para todos, assim como não é hoje e da mesma forma como algumas coisas não existem simplesmente porque não acontecem conosco. Este pode ser o pior equivoco de uma sociedade.

Assim notamos a diferença entre a ditadura vivida e a contada, a partir deste principio ela ganha força, conquistou verdadeiros adeptos ao seu sistema opressor, que segundo era “contado” servia para proteger a população. Muitos foram cassados, quem era contra o sistema ou não a favor, eram delatados por pessoas que nem mesmo entendiam a situação politica do país, imersos na realidade aplicada por todos os meios possíveis, a “verdade” contada por mentirosos, donos do poder, donos da lei e da justiça.

Tornar um ato sórdido em algo benéfico está entre os principais ideais de um sistema repressor, este era o seu papel, e é devido a condutas como estas que continuamos  a colher os frutos deste passado deplorável. Falamos desde a censura que julgava pessoas como subversivas, ou torturas, mortes, entre tantos outros crimes à vida. Imaginamos então quantos filhos simplesmente não voltaram para suas casas... Foi assim que o Brasil atrasou o seu verdadeiro progresso, e tenta correr atrás do prejuízo, no entanto é evidente que continuamos sem parâmetros, se não é fácil guiar a própria vida, idealize controlar uma nação!

Enfim agradeço por ter nascido numa época em que as minhas opiniões são garantidas pela liberdade de expressão. Que temos acesso aos materiais para saber a verdade de um período sangrento e perverso, e que a população tenha a oportunidade de entender por que este período não foi bom. Perceber a historia é validar que tantos não morreram em vão, e a utopia que motivou a tantos, mesmo sem conquistar 100% do que desejava, incentivou a toda uma geração a ir, como cantou Caetano “Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento...”, mesmo quando tudo obrigava a não prosseguir.


Por Grazy Nazario. MTB. 74588/SP.

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